

por Fermín Damirdjian
2010 – Escola da Vila
Dentre as tantas coisas que tem se discutido na mídia sobre o “método construtivista” de ensino, está a questão de como lidar com os erros de conteúdo, grafia ou cálculo presentes nas produções diárias dos alunos. Antes de mais nada, seria interessante ressaltar que uma escola ou um professor pode seguir alguns princípios construtivistas em sua prática sem necessariamente ser um pleno adepto dessa linha. Isso significa que não basta olhar para uma instituição, catalogá-la como “construtivista” e buscar incoerências. Ainda assim, se isso fosse feito, seria necessário um conhecimento consistente tanto sobre essa linha teórica quanto da instituição, o que nem sempre ocorre, especialmente antes de disparar críticas vendáveis em banca de jornal.
Pode-se lidar com a correção apontando erros ao aluno e cobrando-lhe que faça tal ou qual coisa de determinada maneira. Enquanto não o fizer, não terá a aprovação ou nota necessária para seguir adiante em sua vida escolar, conforme regimento da escola onde estuda. O aluno, assim, encontra seu vínculo com esse erro muito mais sustentado por uma avaliação externa a ele do que por um sentido próprio de executar e expor um raciocínio de forma compreensível e coerente com procedimentos de determinada disciplina.
Um dos princípios do construtivismo é a constante adaptação de um indivíduo ao meio em que se encontra, adaptação essa que não é passiva mas necessariamente ativa. A cada movimento de adaptação, um rearranjo estrutural ocorre internamente, ressignificando os estímulos externos conforme as modificações internas que ocorrem à medida que o indivíduo cresce. Nesse processo, fundamento elementar do desenvolvimento subjetivo, a própria ideia de “externo” e “interno” chega muito perto de perder significado, visto que se trata da leitura que fazemos do mundo e de nossas capacidades de agir sobre ele.
Algo similar ocorre quando indicamos a um aluno que reveja, por exemplo, seu texto, e que o refaça em uma versão que siga as orientações que lhe oferecemos. É claro que a correção de um professor tem indicações a serem seguidas, mas uma coisa é que nossa pretensão consista em que ele obedeça a outrem, e outra coisa é que ele reconheça os pontos que podem melhorar e envolvê-lo nesse processo. Esse caminho é uma construção, pois significa, no fundo, desenvolver a capacidade de um aluno rever suas habilidades constantemente. Uma escola construtivista tende a oferecer ao aluno ferramentas para que ele, por si só, busque o aprimoramento de suas habilidades. Falamos então não apenas de uma postura para “ir bem na escola”, mas de uma forma de agir e de se colocar diante de desafios, grandes ou pequenos, rotineiros ou não, quebrando limites entre o que é profissional, escolar, doméstico, familiar etc. Devolver o erro ao aluno não é prescindir da autoridade e dos critérios do professor, mas sim oferecer ao aluno a participação nesse processo construtivo, mais além do que a simples submissão a uma avaliação externa.
*Fermín Damirdjian é orientador educacional do Ensino Médio da Escola da Vila