

por Andrea Polo
2016 – Escola da Vila
Quem observar, por algum tempo, as diferentes intervenções das professoras e dos professores da Educação Infantil diante das ações das crianças que não são traduzidas em palavras, se surpreenderá com o repertório de possibilidades desses profissionais.
Já ouvi muita gente experiente comentar que jamais conseguiria trabalhar com os pequeninos porque choram e, por vezes, não são capazes de “falar” sobre o que os incomoda, o que os agrada, ou, ainda, o que lhes desperta a curiosidade… Pois acredito que está aí uma de nossas especialidades!
O que não é dito pelas crianças é entendido profundamente pelos professores. Entendido! Não interpretado por “achismos” ou observações superficiais.
O professor dessa etapa da escolaridade, entre outras competências, exerce cotidianamente sua habilidade de compreender para além das palavras ditas. É um observador-leitor dos gestos, expressões, choros e silêncios, o que qualifica sua atuação na gestão das relações no grupo e tem forte implicação na construção da confiança pela criança em si mesmo, em suas capacidades e no seu valor como parte de uma turma, contribuindo para sua crescente possibilidade de expressão e percepção de sua pertinência ao grupo.
Para se construir um ambiente favorável às aprendizagens na Educação Infantil, não é suficiente estudar as diferentes faixas etárias e os campos de experiência que compreendem as aprendizagens. É preciso ir além, reconhecer a plenitude da infância e compreender as inter-relações consistentes que podemos construir entre conviver, brincar, ser desafiado e aprender significativamente em distintos espaços.
Planejar propostas para que as crianças de 2 a 6 anos participem da construção de ambientes que favoreçam as aprendizagens significa alimentar, intencionalmente, ações autônomas e de protagonismo infantil. Aprender a conviver, cooperar com o outro, participar da criação de combinados, pesquisar, fazer pinturas, sentir-se provocado por novos desafios fazem parte do cotidiano de quem está começando a entender que a presença do outro é fundamental para suas próprias aprendizagens.
As expectativas dos professores dão às crianças a dimensão da diferença de fazer parte de um grupo e aprender com isso. Nesse caso, compreender a heterogeneidade como nosso principal material de trabalho nos faz acreditar na potência da Educação Infantil como espaço único de construção de um trabalho fecundo para a vida afora, mas possível de se colocar em prática aqui e agora.
*Andrea Polo é coordenadora pedagógica da Educação Infantil da Escola da Vila