

por Patrícia Konder Lins e Silva
2018 – Escola Parque
Quando nos indagamos sobre o que é justo e correto, quando julgamos ações nossas e dos outros, estamos pensando em moral.
Uma escola construtivista se preocupa com a construção moral dos alunos, que é um processo de transformação interna, o que é diferente de apenas receber, mecanicamente, normas e advertências de fora. A existência de regras é fundamental, mas, sem a adesão dos aprendizes, elas se tornam apenas normas burocráticas, sem influência na modificação interna do sujeito. É preciso refletir sobre as próprias ações e não apenas ser punido em caso de transgressão. A reflexão leva ao reconhecimento da própria responsabilidade pela ação praticada e à proposta de uma ação reparadora que recomponha a situação criada. O preceito moral que vem de fora, com o objetivo de conseguir uma obediência sem reflexão, não potencializa a consciência do sujeito para a modificação de comportamento.
O processo de construção de conhecimento e o processo de construção de moral são inseparáveis e concomitantes. Quanto mais se desenvolve a capacidade de pensar, mais se refina o pensamento moral. Nas salas de aula, espera-se que os alunos aperfeiçoem o raciocínio e a argumentação, que discutam sobre ideias e conceitos, com os pares e com o professor, e que considerem o próprio comportamento enquanto aprendizes. O objetivo é que alcancem a autonomia intelectual e moral que possibilita opiniões próprias e responsabilização pelas próprias ações, sem perder de vista o bem-estar do grupo.
Na primeira infância, não há autonomia: as estruturas cognitivas só permitem uma interpretação segundo seu modo concreto de pensar. Para elas, as regras dos adultos têm significado imutável e inquestionável e devem ser obedecidas para evitar punição, e não porque são justas ou necessárias. Esse fato não impede que, na escola, se iniciem as discussões no grupo, com a mediação de um adulto, que ajuda no debate, questiona soluções e chama a atenção para as falas de todos e para a escuta. É o início de um longo processo.
O processo de construção de autonomia intelectual e moral atravessa toda a escolaridade. Leva tempo educar para a convivência com diferentes modos de pensar e para incorporar a responsabilidade da própria ação no grupo.
A educação moral é assunto bastante complexo porque não se deseja obediência e comportamento polido, sem levar em conta a intencionalidade do sujeito da ação, o que incentiva a heteronomia. A construção da autonomia implica construção de conhecimento e construção moral, numa transformação interna, e vai na direção oposta ao reforço da individualidade ou do egocentrismo.
A educação construtivista confia na inteligência do aluno, na sua capacidade de aprender e de se transformar, de se desenvolver como um sujeito autônomo, que obedece regras, normas e leis porque sabe que são acordos necessários para o convívio. Como são acordos, são passíveis de discussão e questionamento, mas para mudar será preciso que um novo acordo seja construído pelo grupo.
*Patrícia Konder Lins e Silva é pedagoga e diretora da Escola Parque