

por Patrícia Konder Lins e Silva
2018 – Escola Parque
A instituição escolar vai precisar mudar para atender às necessidades de um novo mundo que sequer podemos exatamente imaginar. As pessoas terão que ser capazes de lidar com o incerto, com a mudança. Aprender a aprender é o mote da escola neste início de século e, acrescente-se ao mote, a construção de valores das novas gerações. É preciso discutir valores fora e dentro da escola.
Num tempo de moral esgarçada, com os parâmetros antigos convivendo com novas formas de comportamento e ação, as crianças e jovens precisam desenvolver sua capacidade de pensar, o que implica necessariamente a construção de valores morais, já que o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento moral devem caminhar juntos.
Na educação de crianças e jovens, em geral, atribui-se a responsabilidade de tudo a alguém, menos a quem está construindo a moral, que é o aluno. O professor ou o coordenador ou o diretor, enfim, algum adulto é o dono da nota, dono do trabalho, dos planos de curso, do horário, dos critérios de avaliação etc. Ao aluno não cabe responsabilidade nenhuma por suas ações, não faz a menor reflexão sobre seus modos de agir, apenas obedece e conserva-se atento nas aulas, embora passivo. Exige-se que tire uma nota mínima, enfatize-se ‘mínima’, para passar de ano.
A punição pura e simples funciona muito pontualmente, não educa; forma pessoas acuadas, frágeis, sem iniciativa, heterônomas. As pessoas heterônomas entregam a consequência de suas ações para outros, responsáveis pelas punições e premiações. Alunos educados assim não desenvolvem postura de aprendizes, acatam o que lhes dizem enquanto aguardam o dia de começar a agir pela própria cabeça e a viver de verdade. Mas aí, talvez, continuem a recorrer ao que conhecem, que é a entrega da sua vontade a outros, sem saber o que fazer com a possibilidade de pensar e agir livremente.
A sociedade precisa de pessoas autônomas, que se responsabilizem por suas ações, desde cedo, sem esperar castigo ou aprovação no caso de agir bem ou mal.
Autonomia significa a liberdade da responsabilidade assumida. Não é liberdade para mentir, esconder, enganar. É para se responsabilizar, aceitando as diferenças e os desejos de outros sem, no entanto, abdicar das próprias opiniões ou prejudicar o grupo. É alguém que sabe questionar, discutir e argumentar, alguém que sabe perder e ganhar.
A responsabilização pelos próprios atos é que possibilita a liberdade para participar positivamente na sociedade, com consciência crítica e capacidade para enfrentar as mudanças e incertezas do novo milênio.
*Patrícia Konder Lins e Silva é diretora da Escola Parque