

por Patrícia Konder Lins e Silva
2018
O termo ‘construtivismo’ designa muitos eventos, desde a tendência estética iniciada na Rússia, no início do século 20, e que depois chegou às ciências da natureza e às ciências sociais, até a educação, em que hoje se agrupam, sob a etiqueta ‘construtivista’, diversas escolas que rejeitam um modo tradicionalista de transmissão de conhecimentos.
Em educação, existe um construtivismo particular, que é o que se baseia na epistemologia genética de Jean Piaget. O autor não pretendeu falar da instituição escolar ou propor qualquer método pedagógico, mas pesquisar como os seres humanos adquirem conhecimento. A epistemologia genética descreve os mecanismos com que as pessoas constroem conhecimentos desde que nascem, o que é essencial para quem trabalha com aprendizagem. Desse modo, sua contribuição foi fundamental para que a escola pudesse olhar de um modo bem peculiar para a aprendizagem.
O conhecimento não está no sujeito nem no objeto, mas numa inter-relação mútua que transforma ambos. É nessa inter-relação que o conhecimento se constrói durante toda a vida dos seres humanos.
Segundo a epistemologia genética, a inteligência é parte dos mecanismos de adaptação ao meio, é uma característica da espécie humana. “Nasceu gente, é inteligente”, dizia Piaget. Não existe um ponto de partida, um ponto zero da inteligência, um momento de ‘não-inteligência’.
As práticas pedagógicas de uma escola construtivista partem do reconhecimento de que esta característica – a inteligência – não é um dom herdado, mas também não surge pronta. Ela precisa ser desenvolvida, e o que determina maior ou menor ampliação das capacidades do sujeito é a qualidade e a variedade das experiências trocadas com o meio. Um ambiente com experiências desafiadoras e diversas provoca a capacidade de pensar e refletir sobre a realidade, o que gera mais conhecimentos e a possibilidade de relações entre eles e mais aprendizagem. Crianças e jovens têm interrogações, suposições e julgamentos sobre os fenômenos que percebem na realidade, tanto os do mundo físico quanto do mundo mental e social. Interessam-se por discutir suas experiências, suas dúvidas e descobertas. Uma escola construtivista acolhe seus interesses e questões, porque a escola e a realidade pertencem a um mesmo universo.
O aluno é um sujeito cultural ativo, que produz transformações no mundo e em si mesmo. À medida em que compreende e reflete sobre as relações e consequências de suas ações, constrói autonomia intelectual e moral.
Diferente da concepção de escola que repete, recita e ensina conteúdos sem reflexão, a escola construtivista fala em agir, operar e construir a partir da experiência vivida, num processo permanente de aprendizagem.
O construtivismo traz a ideia de que nada está pronto, acabado, e esse é o encanto do conhecimento: nunca termina, é permanente descoberta, um prazer para a vida toda.
*Patrícia Konder Lins e Silva é pedagoga e diretora da Escola Parque