

por Sérgio Porfírio
2018
O filósofo italiano Giorgio Agamben, em seu texto “O que é o contemporâneo?”, apresenta uma perspectiva que pode contribuir para refletir sobre a educação. Para Agamben, contemporâneo é inatual, é o olhar no que falta às luzes da modernidade, é não se deixar ofuscar pelo novo, porque toda aderência a seu tempo causa distância e pouca criticidade das questões subjetivas a ele. Dessa forma, o autor sugere que estar atualizado não basta para ser contemporâneo, até mesmo que a busca incessante por esse status pode causar o distanciamento das referências atemporais importantes para o agora.
O grande avanço tecnológico e as transformações sociais da atualidade impactaram diretamente o trabalho de educadores e das escolas, trazendo à tona o atraso nos sistemas educacionais. Muito se ouve sobre a necessidade de modernização das escolas no que diz respeito ao seu formato e processos. Isso é fato, porém, assim como essa necessidade, é interessante ponderar o que a modernidade oferece como diferencial e imprescindível, e o que pode contribuir para o distanciamento da construção ética e reflexiva de saberes.
O Ministério da Educação, por meio do senso escolar, aponta altos índices de evasão de alunos no Ensino Médio e um quadro ainda mais preocupante no Ensino Superior. Pode-se atribuir esses números ao fracasso das políticas educacionais do país no que tange aos investimentos, diretrizes e formação de professores. É importante salientar o impacto prejudicial das escolhas nas metodologias de ensino e material quando essas ignoram os sujeitos, dando destaque ao objeto de estudo, à ciência como algo acabado. Assim como se tem falado mais de infância em detrimento da criança, mais da adolescência que do adolescente, a educação em sua trajetória afastou a participação efetiva de cada um em seu processo de formação, promovendo pouca interação, transformação e interesse pelo conhecimento.
Por isso a defesa pelo contemporâneo de Agamben como pano de fundo para uma educação crítica, atemporal e transformadora. Uma educação que estimule o rendimento intelectual, o zelo pelas tarefas e a construção da autonomia por meio de um ambiente colaborativo e desafiante.
O pensamento crítico demanda o olhar nas brechas das certezas, proporcionando um movimento de construção e reconstrução de conhecimento não vinculado à moda ou a conteúdos higienizados por ideologias políticas ou econômicas. Esse é o grande desafio de uma linha pedagógica que vê além da necessidade de atualização, que trabalha apoiada na participação efetiva dos sujeitos em sua constituição, com olhar ético, responsável socialmente e compromissada com o progresso contínuo do homem, da ciência e do mundo.
*Sergio Porfírio é especialista em Educação e Psicanálise e Coordenador do Colégio Mangabeiras Parque – Belo Horizonte
5 Comentários. Deixe novo
Parabéns pelo excelente artigo, Sérgio!
Educação com autonomia, criticidade e humanidade!
Grande abraço,
Shirley Santana
Ótimo! É preciso estamos atentos ao que esperamos e vemos! “O contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne…” (Agamben)
Como sempre, parabéns Sergio Porfírio!
Abraço, Alessandra Lana
Ótimo! É preciso estarmos atentos ao que esperamos e vemos! “O contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne…” (Agamben)
Como sempre, parabéns Sergio Porfírio!
Abraço, Alessandra Lana
Artigo imparcial em relação a ideologias partidárias em escolas públicas.Nessas escolas, o texto deve incomodar.
Está é a única saída para a educação.