

por Patrícia Konder Lins e Silva
O século 21 chegou junto com o extraordinário avanço nas ciências e na tecnologia, o que proporciona acesso à informação como nenhuma geração do século 20 teve e uma acumulação exponencial de conhecimentos. Com tantas possibilidades de instrução e ilustração, era de supor que as divergências entre humanos fossem resolvidas com diálogos respeitosos, com base em ideias, teorias e teses. Não tem sido o que acontece. A humanidade ainda não aprendeu a tolerar vozes discordantes e não aprendeu a suportar as diferenças.
Uma das causas para tal comportamento pode ser exatamente o desenvolvimento acelerado do conhecimento, com acesso a muita informação, o que torna o mundo complexo e, possivelmente, assustador. Apegar-se a certezas inquestionáveis torna mais simples a existência. Não ter dúvidas entre o bem e o mal, entre quem é bom e quem é mau, sem nuances intermediárias, protege da insônia das incertezas. É mais fácil viver dentro de um universo elementar.
Outra causa possível para as intolerâncias é a deficiência da educação. Mesmo nos países em que ela é mais eficiente, não parece haver uma adaptação para preparar o jovem para um mundo em transição, demasiadamente complexo.
A educação básica deve tratar seriamente a construção de valores para o convívio social e para a transformação a que assistimos no mundo. Os princípios da convivência são o fundamento da escola básica. Nela, é preciso aprender a respeitar o outro e a vida, e não apenas receber conteúdos de modo burocrático.
Não há tarefa escolar sem valores embutidos. Incluir os alunos na discussão de seus procedimentos e atitudes apoia a formação da consciência de seu papel nos grupos, expressando opiniões e ouvindo outras. O conhecimento é socialmente construído na troca de opiniões e ideias.
Incentivar a individualidade, o trabalho solitário, a nota de um, o trabalho de um e a ação de um reforça o pensamento e o comportamento egocêntricos.
É preciso refletir sobre as habilidades necessárias para uma pessoa conviver num grupo, com valores de justiça, solidariedade, companheirismo, aceitação, empatia, sem perder as próprias crenças e personalidade.
A construção de valores morais na educação básica é inseparável do conhecimento a ser construído. Discutir sobre as próprias ações, durante as tarefas escolares, leva os alunos a perceberem as inconsistências de dogmas e verdades absolutas.
A escola é lugar de construir o sentido da tolerância e do respeito pelas diferenças. Discutir com os pares, na escola, leva à compreensão de que é possível discordar, respeitar e conviver com o outro.
* Patrícia Konder Lins e Silva é pedagoga e diretora da Escola Parque.