

Por Sonia Barreira, da Escola da Vila, especial para o Grupo Critique
O Projeto Zero é um centro de pesquisa situado em Harvard Graduate School of Education, fundado pelo filósofo Nelson Goodman, em 1967. Inicialmente focado na área de arte, o projeto expandiu consideravelmente sua atuação em novas linhas de pesquisas em torno do desenvolvimento do potencial humano. Nos últimos vinte anos, muitas das investigações realizadas abordaram temas caros aos educadores e fundamentais para as escolas.
Como saber se meus alunos estão aprendendo?
Quais aprendizados são mais relevantes para a vida que meus alunos vão viver?
Como posso ajudar meus alunos a aprenderem mais e melhor?
A produção de conhecimento realizado pelos investigadores do Projeto Zero é extensa e diversa, partindo sempre de raízes comuns: o pressuposto de que a inteligência é uma capacidade que pode ser aprendida e ensinada, a convicção de que a aprendizagem e o pensamento estão intimamente relacionados e a relevância da criatividade para o desenvolvimento humano.
Algumas das pesquisas em andamento, extremamente oportunas para o momento da educação em nosso país, devem ser estudadas com atenção. Como a frente de investigação sobre “Civic Agency”, que parte de ideias muito potentes para as escolas que pretendem educar para a cidadania. “As crianças não são futuros cidadãos ou ‘cidadãos em treinamento’, mais do que isso, são cidadãos aqui e agora, com o direito de expressar suas opiniões e de participar na vida cívica e cultural em suas comunidades”. Este tipo de proposição é extremamente instigante para práticas escolares que estimulam maior participação e engajamento dos alunos com os problemas e soluções na vida na escola.
As escolas do grupo Critique são conhecidas por desenvolverem projetos que incentivam seus alunos e alunas a compreenderem e exercitarem a cidadania, se envolverem com os problemas da realidade, assumirem responsabilidades sobre os ambientes em que vivem e construírem uma relação sustentável com o planeta. Para nós, a cidadania ativa não é um efeito colateral do nosso trabalho e sim seu eixo principal!
Outro exemplo interessante do Project Zero é a investigação “Art as Civic Commos” que procura entender como os artistas contemporâneos e suas práticas artísticas provocam e inspiram as pessoas a ressignificarem sua compreensão, interpretação e engajamento na complexidade e incertezas do mundo em que vivemos. A desvalorização da Arte nos currículos regulares parece não ter espaço nesta instituição tão inquieta e inovadora.
Em nossas escolas, igualmente, a desqualificação da área de Arte não encontra espaço, ao contrário, promovemos o conhecimento sólido sobre o percurso histórico desta campo, damos espaço para a prática artística e entendemos ambos como fundamentais para o desenvolvimento da inteligência, da criatividade e para a compreensão crítica da produção humana.
Com o mesmo destaque, “Artful Thinking” é também um projeto do PZ, na área das Artes, que pretende ajudar os professores a criarem conexões entre trabalhos artísticos e o currículo regular e a usarem a arte como uma força para desenvolver a disposição para aprender nos jovens. Esta linha de atuação é muito potente e desenvolvida por algumas de nossas escolas que entendem a arte como expressão, como conhecimento e como construção. Por esta razão a Arte está fortemente presente em nossos currículos, embora em estruturas curriculares distintas e variadas.
Uma outra linha de investigação, relacionada com a avaliação, aborda o tema em distintas perspectivas: como o aprendizado pode ser visualizado, percebido? O que sabemos sobre se, o que e como os alunos compreenderam? Como podemos reimaginar a avaliação como um momento fundamental da aprendizagem? Sem dúvida um tema que mobiliza os educadores das escolas Critique, que procuram favorecer uma avaliação formativa e estão sempre em busca de práticas avaliativas mais potentes e coerentes com nossos enfoques metodológicos.
Todas as diversas e oportunas linhas de investigação que ocorrem hoje nesta instituição (PZ) procuram relacionar teoria à prática e oferecer instrumentos e ferramentas para a ação docente, assim como resultam em publicações, registros e cursos online que podem ser encontrados no site http://www.pz.harvard.edu/projects. Há uma verdadeira predisposição em construir uma cultura de valorização de uma educação inovadora.
Para nós, educadores, vale a pena a leitura dos relatórios anuais, a identificação das questões norteadoras das pesquisas e, sobretudo, o acesso ao acervo de ferramentas elaboradas para os professores colocarem as ideias em prática.
Descobre-se, assim, que parte significativa das ideias veiculadas hoje no Brasil, por escolas e educadores, vistas como inovação pedagógica, embora nem sempre novas, tem origem na produção destes pesquisadores. As inteligências múltiplas, as habilidades socioemocionais, a importância do trabalho cooperativo ou colaborativo, a relevância do estímulo à criatividade, ou empatia, são termos hoje difundidos com novos nomes mas já amplamente defendidos pelas escolas construtivistas.
No entanto, os pesquisadores do projeto Zero são os primeiros a ressaltar a importância de se ajustar qualquer uma delas ao contexto sociocultural local. Preocupação esta nem sempre presente quando se trata de usar ideias pedagógicas interessantes apenas como estratégia de marketing.