

Por Simone Gomes Pereira, coordenadora do Fundamental II do Colégio Mangabeiras
Muitas questões relativas ao clima de trabalho podem surgir das reflexões sobre as rotinas escolares, os espaços, os momentos de troca e os rituais comuns a toda equipe. Grande parte do cotidiano escolar se configura a partir da organização curricular e dos processos de avaliação. Através deles, pode-se perceber qual a concepção de ensino e aprendizagem da instituição e quais as bases que norteiam o projeto pedagógico. Suas estruturas criam dinâmicas que influenciam diretamente nas possibilidades de convívio entre professores e alunos, professores e direção, alunos e alunos, família e escola, e assim são construídos espaços mais ou menos sensíveis de convivência.
Todos sabemos o quanto é importante estarmos atentos a cada sujeito, seu tempo e os movimentos que esse tempo produz em cada relação. Porém, na rapidez do dia a dia, basta um descuido para abrir mão dos momentos de reflexão coletiva, do compartilhamento de problemas e do investimento na convivência. Caímos facilmente em discussões sobre a eficiência ao se ensinar uma matéria, sobre o conteúdo a ser cumprido e o planejamento desse trabalho, de modo que o espaço da cultura na nossa formação humana fica abreviado.
Criticamos aspectos estruturais do cotidiano escolar, como horários, conteúdos, avaliações, ainda que tudo permaneça da mesma forma, talvez por nos trazerem um ordenamento onde possa se dar o programa escolar. Entretanto, currículos centrados em disciplinas, grades de avaliações e rotinas rígidas, mesmo que garantam um confortável nível de organização, tendem a hierarquizar saberes, normatizar relações e ciclos de desenvolvimento, nivelando tudo e todos. São as dimensões formadoras e deformadoras da organização do trabalho pedagógico que podem fazer com que a escola vá perdendo progressivamente a sua afetividade e, nesse sentido, fazer com que nos distanciemos da discussão sobre quais proposições são importantes para nos aproximarmos dos sujeitos que queremos formar. Conteúdos mais abertos brigam por espaço na construção de uma escola mais humana e atenta às questões da modernidade.
Efetivar propostas em que aconteça uma mistura de alunos e professores, voltadas para a experiência na cidade, para o reconhecimento das diversas vozes dos seus sujeitos, é um possante caminho. Entretanto, elas demandam de toda comunidade escolar momentos de planejamento e de interação plurais e horizontais, tempo de encontro e troca, de onde possam surgir ideias e soluções coletivas possam ser formuladas. Ensinar demanda atenção, presença. Atenção e presença surgem do sentimento de pertencimento e da participação. Projetos inovadores na educação trazem uma nova reorganização dos tempos e dos espaços, das estruturas e do trabalho. É importante estarmos atentos ao fato de que a escola, ao mesmo tempo que produz e reproduz a realidade, a cultura, os conhecimentos do mundo, forma seus próprios sujeitos: pais, alunos, professores, coordenadores, auxiliares administrativos. Ou seja, os modos de ensinar e aprender influenciam o que somos, ativam valores e trazem (ou não) para o centro do projeto a formação do humano.
Rotinas mais abertas ou fechadas; Relações diretas ou burocratizadas: tudo isso produz convívios mais ou menos humanizados e afetivos.