

Por Sérgio Porfírio, coordenador do Ensino Médio do Colégio Mangabeiras Parque
Texto reflexivo desenvolvido com base no Seminário Educação Para Sustentabilidade.
Nunca se falou tanto em sustentabilidade, e esse conceito, que surge na década de 70 do século passado com os olhares voltados para os recursos naturais, teve ampliado o seu poder de alcance. Atualmente, ao pensar em sustentabilidade, deve-se considerar outras esferas como a econômica e a social e, neste tripé, claro, o homem e seus hábitos, discursos, vícios e equívocos.
Contudo, percebem-se poucos avanços na promoção de ações sustentáveis. As escolas, em sua maioria, abraçam a causa e repetidamente insistem em projetos formatados, estanques e com o propósito de apenas creditar às instituições a atenção dispensada ao trabalho realizado neste campo.
Recentemente, uma residência pedagógica sobre o assunto reuniu as escolas do Grupo Critique na Escola Parque, Rio de Janeiro. Na ocasião, os educadores vivenciaram o que se poderia chamar de efetiva e singular imersão em uma proposta educacional que se apoia no pertencimento das pessoas e compartilhamento entre elas.
Para além de todas as ações e iniciativas no tripé ambiental, social e econômico apresentadas, um ponto que chamou a atenção durante a residência foi o modelo participativo da gestão com seus educadores, que faziam emanar o sentimento de pertencimento. Era inevitável perceber o engajamento de todos envoltos em uma trama na qual a subjetividade do desejo de cada um se fazia presente, propiciando uma harmoniosa e efetiva relação entre as propostas pedagógicas e o interesse dos alunos.
No investimento realizado pela Escola neste tema, destaca-se a aposta nas pessoas. Aposta que chega à sala de aula e acessa a mobilização dos saberes e a vontade e agir. Ouso elencar aqui o que me pareceu princípio primeiro para tamanho sucesso dos projetos e, talvez o mais significativo – a consideração de que todos carregam consigo um saber, e o sujeito só se faz presente quando esse saber é “colocado na roda”, promovendo maior confiança em si e em suas ações.
A gestão, quando participativa, promove um disparador de ideias em que a maioria se sente responsável e representada. A experiência da Escola, generosamente dividida com educadores de outras instituições, tem favorecido uma consistente mobilização dos seus atores para a consolidação do objetivo de salvar a terra, nossa civilização, a vida humana e outras formas de vida.
Projetos ou políticas de sustentabilidade apoiados simplesmente em modelos ou teorias, que ignoram a diversidade cultural dos saberes deixando à margem a produção de cada um e do coletivo, estão fadados ao fracasso.
O signo sustentável, que tem origem no latim sustentare, carrega em seu significado os verbos sustentar, apoiar e conservar. E pensando na experiência e nas observações da residência na Escola Parque, é possível perceber que a relação que estabelecemos com o espaço, a economia e com o outro não emerge da forma pela qual acreditamos sustentar, apoiar ou conservar o planeta, mas sim daquela com que cada um se sustenta, se apoia e se conserva no planeta.
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