

Por Francisco Ferreira, assessor pedagógico na Escola Viva
“É bom quando é a gente que escolhe o que queremos aprender e saber. A escola tem que ser um lugar gostoso de ir”.
(Freinet, uma conversa além do tempo)
Recentemente, o Grupo de escolas Critique realizou um seminário sobre os desafios e as perspectivas para o Ensino Médio no Brasil. Um dos temas que tomou bastante espaço nos dois dias desse encontro foi o dos itinerários formativos: o que oferecer, como conectar as propostas aos saberes das diferentes áreas do conhecimento e às demandas do trabalho e da cidadania no mundo contemporâneo, como orientar as escolhas dos alunos em função dos seus projetos de vida. Foi uma discussão que, além de ser extremamente rica, nos fez olhar para os dispositivos que já temos instalados nas escolas e como eles dialogam com essa diretriz da BNCC para o Ensino Médio.
No caso da Escola Viva, escolhemos abordar um dispositivo chamado Proposta Integrada, exatamente pela aproximação que tem com a ideia dos itinerários formativos.
Quando a Escola foi fundada, uma das diretrizes que estava na base do projeto pedagógico era a constituição da autonomia do aluno. Como parte do processo que levava a esse objetivo, entendíamos que a possibilidade de escolha na experiência escolar desempenhava um papel fundamental. E foi assim que foram criados os cantos de trabalho: atelier de artes, culinária, marcenaria, faz de conta, leitura, entre outros.
O nome dado a este dispositivo de trabalho na rotina mudou ao longo do tempo: foi inicialmente conhecido como Trabalho Pessoal e, mais recentemente, passou a ser chamado de Proposta Integrada (PI). Em cada novo segmento que a Escola Viva implantou, esse dispositivo ganhou novas cores e traduções. Entretanto, o seu sentido básico permanece: é um tempo/espaço que tem como pressuposto a ideia de que os percursos formativos não são iguais para todos os alunos e, portanto, é necessário oferecer possibilidades de escolha e de desenvolvimento de diferentes tipos de conhecimento e de competência. Ao fazer isso, entendemos que os alunos se engajam no seu aprendizado e vão construindo seus projetos de vida, aprofundando seus interesses, percebendo seus pontos fortes e aspectos que precisam ser melhorados.
Tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio, a Proposta Integrada buscou desconstruir a lógica da seriação e pensar que a idade não é necessariamente o critério de agrupamento de alunos. Ao montarmos as PIs, planejamos os conteúdos de forma que temas e questões que circulam no mundo da cultura possam ser desenvolvidos sem pré-requisitos conceituais ou cognitivos que, de alguma forma, limitem as escolhas dos alunos. E que todos possam beneficiar-se da interação com colegas com diferentes experiências, competências e conhecimentos prévios.
A cada ano letivo, os alunos são apresentados a um conjunto de propostas e devem, necessariamente, fazer escolhas, pois há mais PIs do que eles podem realizar. No Ensino Médio, as escolhas são realizadas trimestralmente, o que significa que, ao fim de cada período de três meses, os alunos transitam para um novo tema e experimentam outras aprendizagens.
Neste segmento, oferecemos atualmente as seguintes Propostas Integradas:
- Simulação estudantil como ferramenta para a vida
- Libras: diálogos silenciosos
- Cinema, tempo e linguagem
- Clube da Física: a construção da ciência a partir das experiências com os jovens
- Ciência e poder: veredas
- Fotografia: narrativa estética e contemporaneidade
- Crítica de arte
- Autoconhecimento para crescer
A nossa experiência mostra que as PIs favorecem a ideia de que a escola não representa um caminho único, padronizado, e que o diálogo com os interesses dos alunos é um fator crítico na mobilização dos jovens para o seu aprendizado e na ampliação de sua reflexão acerca de caminhos e possibilidades.
O nosso desafio é conseguir sempre envolver os próprios jovens na definição e aprofundamento de campos de estudo e experiência, para que as temáticas das PIs façam sentido para eles e atendam às suas demandas de formação na sociedade contemporânea.
Imagem de Luisella Planeta Leoni/Pixabay