

Por Sonia Marina Muhringer Tokitaka, coordenadora do núcleo de sustentabilidade da Escola Viva
São Paulo, 04 de Agosto de 2020
A covid-19 evidenciou de forma contundente a interdependência entre saúde, meio ambiente e economia. Individual e socialmente, sentimos na pele o significado de interdependência; de forma dura, estamos aprendendo o que significa sistêmico. Muitos podem não saber enunciar os conceitos exatos, mas certamente sabem reconhecê-los nos impactos provocados pela pandemia.
Cientistas alertavam para a possibilidade da ocorrência de um evento deste tipo e continuam afirmando que o surgimento de novas epidemias é uma questão de tempo. Baseiam-se no fato de que criamos condições para que nossa espécie entre em contato com vírus e microrganismos desconhecidos e, assim, aumentamos a probabilidade do aparecimento de novas doenças. Quanto mais desmatarmos e destruirmos habitats naturais, quanto mais avançamos as fronteiras agrícolas mais aumentaremos as chances de contato entre organismos adaptados aos seus biomas e as pessoas estranhas a eles, mais expostos ficaremos aos vírus e seus vetores de transmissão.
Também é clara a correlação entre adensamento populacional, condições precárias de moradia e saneamento e favorecimento da proliferação de agentes infecciosos pelo contágio interpessoal.
O “didatismo” desta pandemia evidenciou a sustentabilidade como grande questão central para o debate, tanto pela origem e disseminação da doença, quanto pelos parâmetros que deverão orientar inevitáveis reconstruções para o momento pós-pandemia. Reforçou também a importância desse tema ser componente fundamental de um projeto de educação e reafirmou a escola como espaço vital para que ele aconteça com qualidade e capacidade de provocar mudanças.
Temos desenvolvido projetos em nossas escolas com esta perspectiva, confiamos que formamos crianças e jovens melhor preparados do que as gerações anteriores para o enfrentamento de questões postas pela ampla agenda temática da sustentabilidade. A mobilização de tantos jovens em torno dessas temáticas em períodos mais recentes talvez seja sinal de que a educação teve seu papel. Eles dizem que o futuro é agora, e têm razão.
Nossa geração tem um desafio gigante pela frente. Ajudamos a criar o problema e é justo que participemos da solução. Precisaremos ajudar na construção de cidades e comunidades mais sustentáveis, criar as condições para um outro futuro possível. Ele nos fala de urbanização inclusiva e acesso universal a serviços básicos, de atenção à qualidade do ar, gestão dos resíduos e ampliação de áreas verdes, entre tantas outras variáveis para esta construção.
A covid-19 também nos mostrou que não haverá soluções individuais para uma crise global e nos deu a oportunidade de repensar a forma de viver neste planeta. Estamos todos no mesmo barco, ou na mesma nave, como no século passado se falou sobre a Terra.
Neste momento de distanciamento social, vale a metáfora do abraço, usada pelo neurocientista Sidarta Ribeiro em um depoimento, que traduziu bem esta condição humana comum e a urgência de ação:
“O reconhecimento de nossa fundamental semelhança humana é o que falta para o grande abraço planetário – solidário e fraterno – que estamos devendo a nós mesmos e à sétima geração depois de nós. Não podemos falhar no mais amplo de todos os abraços – sob pena de que seja o último”.
“A Ciência, os sonhos e a pandemia”.
No dia 25 de agosto, Sidarta Ribeiro participa do Ciclo de Palestras ‘Faz Escuro Mas Eu Canto’, promovido pelo Centro de Formação da Vila e pela Bahema Educação. Clique aqui para fazer sua inscrição gratuita.